terça-feira, 7 de junho de 2011

  A Criança e o LUTO
     Após realização de pesquisa sobre o tema, notei que vários autores abordam as dificuldades que existem e o cuidado especial que os adultos devem ter, ao falar de algo, que mesmo entre eles foge a compreensão natural, quanto mais para aqueles, que muitas vezes são obrigados a vivenciar a morte e o luto numa fase tão precoce das suas vidas. Os mesmos sinalizam para os aspectos mais importantes que devemos observar no dia-a-dia da criança, as alterações do seu comportamento face à perda, a forma de abordar o tema bem como a momento certo para o fazer.
      A problemática da perda, por morte, e conseguinte a do luto, representam para mim e desde há muito, uma fonte de aprendizagem. Porém, se considero ter já adquirido alguns conhecimentos teórico-práticos sobre a perda e o luto no adulto. Considero que sei muito pouco acerca desta realidade na criança.
A morte, ao deixar de ter expressão familiar, arremessa as crianças do contacto com a pessoa que está a morrer ou que morreu. Evita-se que elas participem ou assistam aos rituais associados à morte, na tentativa de as proteger do sofrimento, mas o resultado é que a morte se vai tornando numa situação incómoda e culpabilizante, na medida em que as crianças não compreendem o porquê dos pais se afastarem e estarem tristes. É necessário, então, que seja explicado à criança, dependendo da sua idade, do seu estádio de desenvolvimento, da sua cultura e das suas experiências anteriores de perda, o que significa a morte e familiarizá-la, a pouco e pouco, com este aspecto da vida.
Pretendo, sendo assim, para a elaboração deste trabalho, centralizar-me em três dos aspectos que considero mais importantes nesta vivência.

·        O conceito de Morte na Criança;
·        As Perdas, Súbitas em Circunstâncias Inesperadas;
·        A Importância da Comunicação com a Criança em Situação de Perda.


1.     O CONCEITO DE MORTE NA CRIANÇA

      BUSCH e KIMBLE (2001), referem que a perda por morte, de um dos pais, ou de um dos irmãos, atinge profundamente as crianças, mais do que qualquer outro tipo de perda, incluindo a do divórcio dos pais. Estes mesmos autores, defendem que o conceito de morte é assimilado pela criança ao longo do seu desenvolvimento cognitivo e emocional, pela compreensão de quatro subconceitos fundamentais: universalidade, não funcionalidade, causalidade e irreversibilidade. É, também, neste sentido, que vários autores (NUNES, 1998; TORRES, 2008; VENDRUSCOLO, 2005), defendem que, a elaboração do conceito de morte, pelas crianças, depende, para além do desenvolvimento cognitivo global, da idade, da cultura e das experiências anteriores.
      A partir desta ideia, BUSCH e KIMBLE (2001), descrevem o conceito e as reacções à morte, pela criança, de acordo com os quatro grandes estádios de desenvolvimento cognitivo de Piaget: sensório-motor (0-2 anos); pré-operacional (2-7 anos); operacional concreto (7-11 anos); e operacional formal (a partir dos 11-12 anos).
      Em cada um dos estádios, a criança compreende a morte de modo muito particular e sui generis. À medida que a criança evolui de um pensamento mágico operacional concreto e depois para um abstracto e, simultaneamente, vai assimilando os vários subconceitos atrás mencionados, o seu conceito de morte vai sendo elaborado e modificado, aproximando-se cada vez mais, do conceito de morte nos adultos. A elaboração, por parte das crianças, do conceito de morte, tendo como foco o seu significado e suas implicações psicológicas tem sido, desde 1934 com o trabalho pioneiro de Schilder e Wechsler, alvo de diversas investigações, existindo, actualmente, uma ampla gama de informações sobre este tópico (TORRES, 2002).
      Estas investigações, de acordo com VENDRUSCOLO (2005), diferenciam-se entre aquelas que questionam sobre a idade em que a criança compreende a morte e aquelas que procuram investigar se essa compreensão está associada ao nível de desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. Existem ainda outras teorias que defendem que a concepção de morte pela criança, para além da idade e do desenvolvimento cognitivo, é influenciada também pelas experiências anteriores de perda no seio familiar e pelo contexto cultural e social (NUNES et. al., 1998; MAZZETTI, 2001).

      Embora se observem diferenças na forma como o conceito de morte é trabalhado pelos diversos estudiosos, TORRES (2001), diz-nos que, actualmente, há maior tendência para se percepcionar o conceito de morte, não como um conceito único, mas sim como um conceito complexo e multidimensional, que envolve a compreensão de subconceitos: a universalidade, a irreversibilidade e a não universalidade. Na literatura, esta ideia de que a criança desenvolve o conceito de morte a partir  da assimilação e acomodação destes três subconceitos, parece ser consensual. À semelhança de BUSCH e KIMBLE (2001) também NUNES et. al. (1998), TORRES (2002) e VENDRUSCOLO (2005), definem os três subconceitos da seguinte forma:

·        Universalidade – todos os seres vivos nascem e morrem, não sendo possível evitar a morte nem prever quando, como e onde ela vai morrer;
·         Irreversibilidade – associado ao conceito de permanência, traduz a noção de que tudo o que morre já não volta mais a ter vida;
·        A não funcionalidade – conceito difícil de entender pela criança, dado que está relacionado com a cessação de todas as funções vitais do organismo.

      BUSCH e KIMBLE (2001), acrescentam a estes três subconceitos, um outro que é o da causalidade, o qual está relacionado com a causa que conduz a pessoa a morte. Cada um destes subconceitos é assimilado pela criança em determinado estádio de desenvolvimento e, de acordo com essa assimilação, assim a percepção de perda, de morte e de necessidade de luto, pela criança.
      A par desta tendência, parece também consensual na literatura, considerar que a compreensão da morte na criança se faz paralelamente ao desenvolvimento cognitivo global da criança (MATOS, 1997; TORRES, 2002; VEIGA, 2005; MACHADO).

2. PERDAS SÚBITAS EM CIRCUNSTÂNCIAS INESPERADAS

      No que diz respeito às perdas súbitas, em circunstâncias inesperadas, BUSCH e KIMBLE (2001), refere que determinado tipo de mortes, especialmente as súbitas, derivadas de suicídio, dos homicídios e dos acidentes de viação e dos tiroteios na escola e a morte de um irmão, são os que causam maior dor e sofrimento na criança, sendo, que os rapazes demonstram ter maior dificuldade em lidar com estas perdas que as raparigas.
      Dentro destas mortes, o suicídio de um familiar próximo ganha um relevo especial, na medida em que a criança, perante esta morte, desenvolve sentimentos de culpa e sente uma dor muito forte, quase intolerável. Neste sentido, OLIVEIRA (2006:24) descreve que “ a morte de uma pessoa próxima, particularmente por suicídio, pode revelar-se num factor de risco na adolescência e, nalguns casos, num factor precipitante para graves comportamentos parassuicidas ou suicidas.”
      De acordo com TWYCROSS (2001:69), muitas crianças em luto adaptam-se normalmente, mas podem manifestar-se mais tarde em idade mais tardia perturbações de comportamento. Os adultos frequentemente não sabem aquilo que podem esperar e podem negar que a criança esteja afectada. Frequentemente são incapazes de compreender e responder aos sinais muito claros de perturbação na criança, mesmo quando a criança possa estar a reflectir o luto suprimido do resto da família.

3. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO COM A CRIANÇA EM SITUAÇÃO DE PERDA

     A comunicação adequada, é a principal ferramenta que pais, familiares, profissionais de saúde e educadores podem utilizar, para ajudar a criança a vivenciar, compreender e ultrapassar o processo da perda e consequentemente o luto. O tema da comunicação é deveras importante, dado que um dia a criança vai abordar, directa ou indirectamente, a questão da morte. A reacção do adulto (pai, mãe, tio, avó, professor ou profissional de saúde) vai ser determinante para a formação da criança, no que diz respeito à noção de vida e de morte. As explicações sobre a morte devem se adaptadas à idade cognitiva e intelectual da criança e àquilo que esta deseja e expressa ver esclarecido.
Neste contexto, BUSCH e KIMBLE (2001), expõe um rol de actividades/jogos e de intervenções, assim como uma lista de livros e a descrição de um Programa de Apoio de Perda Escolar, que ajudam pais, educadores, professores e profissionais de saúde a trabalharem com a criança o processo de perda e consequentemente o do luto.
      De entre todas estas intervenções referidas pelos autores acima citados, considero que a mensagem principal que eles pretendem transmitir é a de que a partilha, de sentimentos,

de medos/receios e de memórias do defunto, entre os pais e a criança, é um factor incondicional para que esta última assimile a morte, como sendo uma experiência natural e positiva.
      Toda esta partilha, permite à criança compreender melhor o processo de morte e de luto, ao mesmo tempo que diminui a sua angústia de separação. A família deve fomentar um clima de confiança e segurança, que permita à criança expressar e verbalizar os seus sentimentos e os seus medos, bem como, decidir se quer participar ou não nos rituais fúnebres.
      Entretanto, ao transferirmos estas premissas e dogmas para a realidade da criança e não associarmos os termos morte e criança, parece que entramos num mundo de contradições, onde as palavras deixam de ter sentido. É como se a morte não se ocupasse da vida na criança em nenhuma forma de aproximação. Contudo, a realidade não aponta neste sentido e todos os autores citados acima (BUSCH e KIMBLE, 2001; MATOS, 1997; MACHADO, 2007; MAZZETTI, 2001; OLIVEIRA, 2006) referem que a morte está presente na criança desde tenra idade e que ela pensa na morte, na vida e na dor mais vezes do que se possa imaginar.



4. CONCLUSÃO

      Numa primeira fase, a leitura de alguns artigos permitiu-me elabora uma noção de como é que a criança desenvolve o conceito de morte e como é que a família, educadores e profissionais de saúde se podem posicionar, em termos afectivos e comunicacionais, junto da criança que experiencia uma aproximação de morte. Posteriormente compreendi que a criança que experiencia uma situação relacionada com a perda, por morte, seja a possibilidade da sua própria morte o mesmo a perda de pessoas queridas, mantém-se registado no se psiquismo, emoções e sentimentos a esse respeito.
      O modo como ela organiza e expressa sua compreensão e os seus sentimentos face a essa perda depende do seu desenvolvimento cognitivo e afectivo e da assimilação dos quatro subconceitos básicos (Universidade, Irreversibilidade, Causalidade e Não Funcionalidade). Deste modo, torna-se imprescindível, para cuidar da criança e para que esta desenvolva uma boa saúde mental, ter como referência o seu estádio de desenvolvimento cognitivo, ou seja, ter e conta o que é esperado em termos de habilidade e de competências em cada estádio.
      Outra das lições mais importantes que retiro da elaboração deste trabalho prende-se com a comunicação na criança com perda. Proporcionar a oportunidade de diálogo sobre a dor, a morte e o suicídio, como permitir que quem passa por uma experiência como esta, em especial uma criança, sinta que possa deixar fluir a tristeza, chorar, mostrar a sua revolta, exprimir a dor e revelar o luto, sem ser criticada, silenciada ou ignorada e, a este nível, a reacção dos pais, educadores e profissionais de saúde é determinante para a formação da criança e para sua noção de vida e de morte.
      E, no término deste trabalho, sinto que escrevo uma conclusão que está longe de o ser…ficou anda muito para dizer e reflectir, considerando que o tema da perda, da morte e do luto na criança é vasto e muito complexo. Por se tratar de um tema tão especial, que acompanha Humanidade desde os primórdios e nos afecta de forma tão devastadora que de certa forma até para nós, torna-se muito difícil de ultrapassar.

AZUL PROFUNDO!

                                    


A dimensão da Tua criação faz-me ver por momentos quão pequeno sou. O Teu imenso amor me alcança, mesmo andando, por momentos, na contra-mão desta tão pequena e limitada vida! o que mais custa é ter a certeza que um dia já não será mais possível contemplar a beleza da Tua criação e no meu pensamento mais finito, reconheço que ainda há tanto para ver da desta infinita criação. Deus, que outrora falava diretamente aos teus filhos, mostrando o caminho da justiça, da verdade, da compreensão, do pedão e amor genuíno, pelo qual haviam de trilhar. a Tí peço, que continues sendo a lâmpada para os meus pés e luz para iluminar os meus caminhos tão obscuros!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Assim é como vejo a "Divisão Celular"...num monólogo de jogos de palavras!!!

"São como gotas de água as palavras, pequenas células que se entrelaçam quando o silêncio as toca de sombra e claridade"


Luis Serrano